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  07:34

Assassino de ator de Chiquititas cita Bolsonaro e Lula em seu julgamento

Paulo Cupertino Matias falou que não faria do seu júri um "circo", se levantou do banco dos réus quando foi interrogado e acabou advertido pelo juiz por mau comportamento. Contrariou suas próprias advogadas de defesa por falar, quase sem parar, por mais de duas horas. E ainda citou Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para dizer que, assim como o ex e o atual presidente do Brasil, ele também fala o que sente e pensa.

O que aconteceu acima foi gravado por uma câmera do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) durante o julgamento do réu, com a ciência dele, na última quinta-feira (29) no Fórum Criminal da Barra Funda, Zona Oeste da capital.

Apesar de ter alegado inocência, na sexta-feira (30) Cupertino foi condenado a 98 anos de prisão em regime fechado acusado de ter matado a tiros o namorado da sua filha, por não concordar com o romance deles, e os pais do rapaz. O crime ocorreu em 2019.

O ator de Chiquititas Rafael Miguel e o casal Mirian e João Miguel foram mortos com 12 tiros no total. Cupertino fugiu após o crime e foi capturado e preso pela polícia em 2022.

Cupertino foi interrogado somente por sua defesa, já que não quis responder às perguntas do Ministério Público (MP), responsável por acusá-lo pelo crime. O réu começou dizendo às advogadas que não cometeu o crime.

"Impossível, entendeu, eu ter cometido esse crime", diz Cupertino no vídeo do júri. "Eu não matei o Rafael, eu não matei a família."

"Eu nunca na minha vida, eu nunca na minha vida, eu tive conhecimento do Rafael, Eu tive conhecimento da senhora Mirian, eu tive conhecimento do senhor João, tá?", reforça.

Depois disso, o acusado passou a falar sem parar, não permitindo que sua defesa conduzisse seu interrogatório. Durante sua fala, Cupertino quis dizer que tem duas armas, que eram regularizadas, mas que não estava com elas no dia do crime.
Só não explicou como elas sumiram e não foram encontradas depois pela polícia.

"As minhas armas de excelência, todas as duas, eu tinha porte e registro das armas. Um revólver calibre 38 e uma pistola 380. Agora, no dia dos fatos, eu não estava armado. Mostra para mim a filmagem que eu estava com a arma na mão. Mostra para mim eu atirando no Rafael. Mostra para mim eu atirando na senhora Mirian", fala.

Câmeras de segurança gravaram Cupertino fugindo após o crime.

Em dado momento, como num monólogo, Cupertino falou que não tinha motivo para atirar nas vítimas e que somente após o crime soube que Rafael era um ator. Também alegou que não é verdadeira a acusação de que ele matou o rapaz e seus pais porque era contra o namoro da filha.

Ainda sobre sua relação com Isabela, Cupertino comentou que não a agredia e que ela inventou que o ouviu atirando contra Rafael, Mirian e João.

"Eu tenho certeza disso para qualquer um. Para qualquer um de vocês. Ela [Isabela] não ouviu nada. Ela não presenciou. Ela não presenciou isso. ‘Ah, eu ouvi os disparos.’ Como é que ela ouviu se ela estava no quarto?", pergunta Cupertino sobre Isabela”. 

"Eu acho que ela foi iludida, abduzida, ela foi aliciada psicologicamente", diz ele ainda sobre a filha. "Eu amo a Isabela. ‘Ah, você tem raiva.’ Não tenho um pingo de raiva da Isabela."

Falar de Isabela foi uma das coisas que Cupertino mais fez no julgamento. Ele ainda lamentou o fato de a filha não querer mais usar o sobrenome dele.

"Cupertino é o meu sobrenome, e é um sobrenome que eu trago com muito orgulho, porque é o sobrenome da minha mãe. A minha filha se chama Isabela Tibcherani Cupertino Matias. A primeira coisa que ela fez, Excelência, foi tirar o nome dela, Cupertino", fala o réu.

Em outro momento, quando Cupertino continuava a falar, olhando para trás, para a plateia e eventualmente para os jurados, uma de suas advogadas, Mirian Souza, o interrompeu, deixando-o irritado. Os dois discutiram.

"Ah, mas a sua filha fala que você matou. A sua ex-mulher fala que você matou. A minha filha, ela foi alienada. Não, doutora, não era isso que a senhora queria? Não era a verdade? Só a verdade em cima da verdade? Então, o juiz está aqui. Se ele mandar eu parar de falar, eu acho que eu tenho que parar de falar", disse 

Cupertino, contrariando sua advogada Mirian Souza, que não conseguia fazer perguntas ao próprio cliente.

"É só para que a gente consiga fazer uma linha do tempo", diz a advogada de defesa, que é rebatida pelo réu: "Doutora, isso é um desabafo. Não tem linha do tempo, doutora. Então, a senhora está me cortando."

Cupertino falou pouco sobre o crime pelo qual respondia. Quando tocou no assunto, sugeriu que quem assassinou as vítimas foi um "vagabundo" não identificado:

"Eu fui covarde porque eu poderia ter evitado, policial, eu poderia ter evitado a situação, porque, quando eu vi a cena, o vagabundo, o infeliz que estava lá, que cometeu isso", diz o réu.

Dizendo ser inocente das acusações, Cupertino também olhou para os familiares das vítimas que estavam na plateia e afirmou: "Eu não tenho que pedir perdão, tá? Porque não carrego isso no meu coração".

Durante o interrogatório de Cupertino, ele se voltou contra a acusação, formada pelos dois promotores e o advogado assistente, respectivamente Thiago Marin e Rogério Zagallo, além de Fernando Viggiano. O réu se levantou e partiu para cima deles.

"Se você quer me cortar, fica à vontade", disse Cupertino para a mesa do Ministério Público.
Logo em seguida foi repreendido pelo juiz Antonio Souza: 

"Primeiro, o senhor fica sentado. E segundo, que eu vou pedir que trate com urbanidade todo mundo aqui".

"Eu estou alterado", alega Cupertino ao magistrado. “Desculpa a forma de estar falando."

Em outro momento, Cupertino quis comparar sua maneira de se expressar com a de Bolsonaro e Lula.

"Por que o Bolsonaro foi lá e falou que tomou a vacina e não tomou? Por que o Lula falou que tem o [inaudível]?", indaga Cupertino, querendo dizer que também é sincero quando se expressa: "Aqui é um homem empolgado, esmagado, calejado, sofrido. Entendeu? Numa cadeia maldita".

Antes da votação dos jurados para decidir se o réu deveria ser absolvido ou condenado, Cupertino fala olhando para eles sobre o tempo de cadeia em que poderia ficar preso:

"Se acontecer de vocês me condenarem (...), não vem com cadeia de 20 anos, 30 anos, não, que eu não quero. Tem que ser chapoletada, porque é um triplo homicídio".

Fonte: G1

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