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  13:32

Brasileira é alvo de difamação na Itália, acusada de engravidar para receber pensão e fazer parte de seita

  Italiano acusa ex-namorada brasileira de ser integrante de seita

Em um caso de difamação internacional, uma brasileira é acusada pelo ex-namorado italiano de ser integrante de uma seita de mulheres que engravidam para tentar ganhar dinheiro de pensões alimentícias.

Nunzio Bevilacqua, advogado e empresário com negócios no Brasil, foi à imprensa italiana dizer que a gravidez da ex-namorada, a brasileira Bárbara Zandômenico Perito, seria fruto de orgias e ritos satânicos. Ela nega a acusação. A defesa dela quer que o italiano seja responsabilizado criminalmente.

Em 3 de abril de 2024, misturando cenas turísticas do Brasil com imagens preconceituosas de cultos religiosos, a RAI, principal TV da Itália, transmitiu uma reportagem com a chamada: "Italiano vítima de magia e extorsão no Brasil. Inventam-se falsas paternidades para arrancar dinheiro."

Início do relacionamento

Para entender de onde isso saiu, precisamos voltar a 2021, em Tubarão, no estado de Santa Catarina. Bárbara é descendente de italianos, dá aulas para brasileiros e ensina português para estrangeiros. Nunzio Bevilacqua se matriculou no curso. Depois de cinco meses, a relação profissional entre os dois começou a ficar pessoal.

"Desde o início ele já me apresentava como namorada dele. Eu achei isso um pouco estranho, mas também não comuniquei a ele. E acabei sendo, né?", diz a professora.

Depois de uma viagem com Nunzio pelo Brasil, Bárbara fez um teste de gravidez. "Deu positivo. E ele ficou superfeliz", relata. Mas o advogado voltou para Roma e, de lá, insistia que Bárbara fosse atrás dele. Eles começaram a se afastar durante a gestação.

"Comecei a pensar se talvez não seria melhor se eu ficasse, na gravidez, no Brasil, perto da minha família, porque era uma coisa nova, minha primeira filha, eu não sabia como seria. É tudo muito novo", acrescenta Bárbara. "E ele não aceitou muito bem." 

"Ele me ligou um dia perguntando se tudo bem se ele não participasse da criação dela, não registrasse e não ajudasse financeiramente. Eu falei: 'Isso aqui não está certo. A gente precisa fazer o que é certo: registrar, acertar a convivência, acertar a pensão'", diz Bárbara.

Difamação

Nunzio começou a espalhar a história que a RAI acabaria contando no ano passado depois de um exame que confirmava a paternidade. O italiano passou a dizer para a imprensa de seu país que havia uma organização criminosa no Brasil com o objetivo de enganar homens europeus para extorquir o dinheiro deles.

Nunzio deu entrevistas a outros veículos do país, e disse que tinha recebido a seguinte denúncia anônima: "A gravidez de Bárbara seria fruto de orgias e ritos satânicos brasileiros que alimentavam uma fábrica de crianças sobrenaturais para lucro com pensões alimentícias".

A criança nasceu dois meses depois do telefonema de Nunzio a Bárbara, em julho de 2022. Nos dias seguintes, o italiano quis fazer um teste de DNA em São Paulo. Segundo Matheus Livramento, ex-advogado do italiano, o local foi escolhido pelo próprio empresário.

Depois da confirmação da paternidade, ele pediu um segundo teste, mas esse pedido foi negado pela Justiça.

Nunzio envolveu no roteiro membros do Ministério Público de Santa Catarina, grupos religiosos, médicos, políticos e até mesmo os familiares de Bárbara.

"Ele criou uma narrativa como se no Brasil tudo fosse possível", diz Bárbara. "Seita religiosa, que é uma organização criminosa, em que as mulheres engravidam de um santo por meio de uma fertilização. Ou seja, todas as crianças são filhas do mesmo santo, do mesmo guru. E, depois de dois anos, se a gente não alcança o objetivo, as crianças são vendidas."

A defesa de Bárbara pede que Nunzio seja responsabilizado.

"Ele atenta contra o Ministério Público, ele atenta contra a Igreja Católica, contra outras religiões, contra uma pessoa que tem direitos, que é a Bárbara, e mais ainda: contra a filha dele, uma menor de idade", diz Vitor Poeta, advogado de Bárbara Perito.

Abertura de processo criminal

Um processo criminal foi instaurado para apurar a possível prática dos crimes de calúnia, difamação e perseguição, o chamado stalking. Todos pela internet, em um contexto de violência doméstica. No início do mês, a Justiça Federal concedeu a Bárbara algumas medidas protetivas.

No ano passado, uma equipe de reportagem italiana veio ao Brasil, gravou e depois publicou imagens de Bárbara e da criança na rua.

"Nós temos um pouco de receio do que pode acontecer pelo tamanho que essa história tomou e pela vinda de repórteres, vinda de profissionais contratados por ele que foram atrás de familiares, invadiram a casa dela. Isso, de forma criminal, é o que a gente pode fazer aqui no Brasil", diz o advogado de Bárbara.

Se vier ao Brasil, Nunzio está proibido de se aproximar de Bárbara e de seus familiares. A distância mínima é de três quilômetros. Além disso, o empresário também está proibido de contatar Bárbara e os familiares por qualquer meio de comunicação.

Nunzio Bevilacqua não tem advogado constituído no processo criminal brasileiro. A jornalista Roberta Rei, do canal Itália Um, reconheceu o absurdo da situação e afirmou que um novo teste de DNA encerraria o assunto.

Bárbara e a filha, hoje com três anos, vão levando a vida em Tubarão. Ela continua dando aulas e nunca recebeu nenhuma ajuda financeira de Nunzio. Ele ainda não reconhece a paternidade.

"Eu não faço parte de seita nenhuma. Não existiu golpe de nenhum tipo. Existia um relacionamento que não deu certo e, desse relacionamento, existe uma criança — que é saudável, minha filha, filha dele, que vive e está aí. É isso que existe nessa história", conclui Bárbara.

Fonte: Fantástico/G1

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